O site Nelson Rodrigues no chão do palco é um dos produtos do projeto de pesquisa A Consagração da obra teatral de Nelson Rodrigues através da seriação e da análise crítica de suas montagens apoiado pela FAPERJ no edital do Programa de Apoio a Projetos Temáticos no Estado do RJ- 2019, elaborado pela Profa. Dra. Andrea Daher/UFRJ , Prof. Dr. Henrique Gusmão/UFRJ e coordenado pela Profa. Dra. Lidia Kosovski/UNIRIO.


Nelson Rodrigues é um personagem incontornável da vida cultural brasileira desde meados do século XX. Seja como dramaturgo, jornalista, cronista, romancista, comentador de futebol ou apresentador de programa televisivo, ele cunhou uma marca inconfundível à sua variada obra que é facilmente reconhecível e apreciada até hoje. Os tipos criados por ele – o “idiota da objetividade”, a “grã-fina das narinas de cadáver”, “Palhares” –, assim como suas tantas máximas e situações dramáticas fazem parte de um repertório cultural compartilhado por brasileiros de todos os tipos e idades. Dessa forma, é difícil, hoje, falar de Nelson Rodrigues sem que tantas referências surjam de imediato.

No projeto que resulta neste site, buscamos olhar detidamente para um dos papéis que Nelson mais gostava de viver: o “homem de teatro”. Entre 1941 e 1978, ele escreveu dezessete peças teatrais que foram montadas pelos mais diferentes artistas, em linguagens e espaços cênicos diversos. Sempre acompanhadas pelo seu olhar atento presente nos bastidores de cada ensaio, essas montagens guardam histórias que merecem ser revisitadas e detalhadas, revelando aspectos inéditos desse chão dos palcos do teatro rodrigueano.

Esta foi a nossa tarefa: ir atrás dos diretores, atrizes, atores, produtores e cenógrafos que viveram a experiência de montar “um Nelson Rodrigues” – na primeira encenação de cada texto e na presença do autor – e provocá-los a falar. Não foi uma tarefa simples, especialmente se levamos em conta que tudo começou no ano de 2020, junto com a eclosão da pandemia da covid-19. Também a distância temporal torna mais difícil o acesso aos documentos dos espetáculos, fazendo com que nossa pesquisa se centrasse sobretudo na imprensa, por meio de longo trabalho na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. Mais ainda, o amplo intervalo de tempo que já nos separa da morte do autor fez com que nem sempre fosse fácil chegar àqueles que compartilharam com ele de uma enorme aventura teatral.

De fato, duas atrizes que já tinham estabelecido contato conosco faleceram antes de nos conceder entrevista: Nicette Bruno e Camila Amado. Além delas, outras duas faleceram pouco depois de gravar seus depoimentos para este projeto: Neila Tavares e Léa Garcia. Para nós, evidentemente, a dor dessas perdas reforçou o sentimento da fluidez de histórias, que, caso não fossem imediatamente registradas, se perderiam de todo. Isso deu ainda mais sentido para este projeto, que foi atrás do cotidiano dos ensaios, das apresentações, dos rastros da presença de Nelson Rodrigues nesses espaços, numa tentativa de reconstruir algumas partes de uma prática que foi fundamental para a história do teatro brasileiro no século XX.

Neste site, reunimos, assim, informações e entrevistas sobre seis montagens teatrais de textos rodriguianos: Senhora dos afogados (1954), Perdoa-me por me traíres (1957), O beijo no asfalto (1961), Álbum de família (1967), Anti-Nelson Rodrigues (1974) e A serpente (1980). Mais de trinta anos separam o primeiro trabalho analisado do último, fazendo com que possamos tratar de lógicas de um cotidiano teatral em franca transformação. Deram-nos entrevistas Carlos Gregório, Ginaldo de Souza, Léa Garcia, Marcos Flaksman, Maria Esmeralda Forte, Nathália Timberg, Neila Tavares e Sura Berditchevsky, a quem agradecemos muito pela disponibilidade e por se disporem a trazer à tona afetos, lembranças e reflexões tão pessoais. No contato com eles, pudemos realizar o objetivo principal deste trabalho: dar voz aos que viveram processos completos de criação cênica rodriguiana, momentos fugazes fundamentais da história do nosso teatro e da prática de uma dramaturgia que nos marcou e marca até hoje.


FICHA TÉCNICA

Coordenação Geral: Lidia Kosovski
Direção: Henrique Gusmão e Lidia Kosovski
Roteiro: Henrique Gusmão e Lidia Kosovski
Coordenação de Pesquisa: Henrique Gusmão
Pesquisa e produção textual: Henrique Vertchenko
Assistência de Pesquisa: July Anne de Paulo Valério
Gravação do vídeo de Marcos Flaksman: André Riff
Gravação do vídeo de Neila Tavares: Leo da Selva
Gravação dos vídeos de Marcos Flaksman, Sura Berditchevsky, Carlos Gregório, Ginaldo de Souza, Maria Esmeralda, Lea Garcia e Nathália Timberg: Zai Sichen
Edição dos vídeos: Zai Sichen
Projeto gráfico: Estudio Touch