Marcos Flaksman é diretor de arte e cenógrafo de teatro, ópera, cinema e televisão. Atuando desde a década de 1960, integra a primeira geração brasileira de arquitetos-cenógrafos, tendo realizado aproximadamente 100 espetáculos de teatro e 15 de ópera, alguns deles também como diretor. Destacam-se A vida impressa em dólar, Dois perdidos numa noite suja, O Sr. Puntilla e seu criado Matti, O Assalto, O amante de Madame Vidal, Seria cômico… se não fosse sério, Coriolano, Equus, Nó cego, Rasga Coração, A Serpente, Pluft – o musical, O Método Grönholm, O homem inesperado, Palácio do fim, Elis, a musical, O homem travesseiro e, na ópera, Carmen, Così Fan Tutte, Yerma, Werther e Tosca. Como diretor de arte, além de programas e seriados de TV, realizou 43 filmes de longa-metragem nacionais e internacionais, entre eles Garota de Ipanema, Blame it on Rio, Moon Over Parador, Brasil ano 2000, Os sete gatinhos, Barrela, O que é isso, companheiro?, Villa Lobos, uma vida de paixão, O Xangô de Baker Street, A Partilha, O Vestido, Benjamim, Zuzu Angel, Se eu fosse você 1 e 2, O mistério de Irma Vap e Chico, artista brasileiro. Também projetou e montou exposições, entre elas Carlos Drummond de Andrade, no Centro Cultural Banco do Brasil RJ, e Brasil +500: Mostra do Redescobrimento (módulo arte do século XIX), no Parque Ibirapuera (SP). Em 2009, no Oi Futuro Ipanema (RJ), realizou a exposição Desenhando um filme, onde era exibido o material de seu trabalho como diretor de arte em oito produções. Flaksman já foi laureado com os prêmios Mambembe, IBEU, Governador do Estado, Bibi Ferreira, Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA), Associação de Produtores de Teatro do Rio de Janeiro (APTR), Troféu Candango do Festival de Brasília, Grande Prêmio da Academia Brasileira de Cinema, ABC de Cinema, além de três vezes com o Prêmio Molière e com o Crystal Lens, em Miami.

Ao participar como diretor de arte das filmagens de Os sete gatinhos, dirigido por Neville d`Almeida, Marcos Flaksman conheceu Nelson Rodrigues, a quem pediu para montar sua última peça, ainda inédita. A Serpente estrearia em março de 1980, tendo Flaksman como diretor, cenógrafo e iluminador. O relato dessa experiência pode ser conferido na entrevista a seguir.

Sura Berditchevsky é atriz, diretora, produtora e autora. Estudou Jornalismo na Universidade Federal Fluminense e em 1971 iniciou sua formação em teatro com Maria Clara Machado. Após três anos, integrou o primeiro corpo de professores do Teatro O Tablado. A partir de então, atuou em diversas peças infantis, como Tribobó City, O Boi e o burro no caminho de Belém, O embarque de Noé e O Cavalinho Azul; e adultas, como Vassa Geleznova, O Dragão, As Cadeiras, Hedda Gabler, Por que você não vai fazer chá e Dorotéia. Em 1976, fundou a companhia de palhaços Irmãos Flagelo, sob a direção de Zdenek Hampl. Subsidiada pela Secretaria de Parques e Jardins, a companhia se apresentou em inúmeras praças da cidade durante dois anos, ganhando destaque com um teatro performático e de rua no Rio de Janeiro. Na televisão, Sura participou de novelas e minisséries como Dancing Days, Marrom Glacé, Plumas e Paetês, Terras do Sem Fim, Santa Marta Fabril S.A., Selva de Pedra, Barriga de Aluguel e Era uma vez. No cinema, atuou em Ajuricaba, Delmiro Gouveia, Os sete gatinhos, Noites do sertão, O Cavalinho Azul (como atriz e corroteirista), O Vestido e Meu nome não é Johnny. A partir de 1980, passa a escrever livros infantis, a exemplo de Amor de cão, Um peixe fora d`água e Os olhos da cara, alcançando mais de 40 mil exemplares vendidos. Desde 1987, escreve, dirige e produz suas próprias peças teatrais, dando ênfase a espetáculos musicais para crianças e adolescentes, com os quais ganhou diversos prêmios, como Mambembe, Coca-Cola, SATED e Molière. Dentre esses espetáculos, destacam-se Peter Pan, com música de Edu Lobo e Paulo César Pinheiro; Diário de um adolescente hipocondríaco, com música de Arnaldo Antunes e Titãs; Um garoto chamado Roberto, de Gabriel, o Pensador; Como nasce o palhaço; Theatro das virtudes; Um peixe fora d`água e Cosquinha, com Heloísa Périssé e Ingrid Guimarães. Foi uma das diretoras de Cócegas, peça com essa mesma dupla de atrizes, que permaneceu 12 anos em cartaz, com mais de um milhão de espectadores. Entre 1988 e 2000, dirigiu o Curso de Teatro Sura Berditchevsky no Teatro Villa-Lobos, onde formou diversos atores e profissionais de teatro, cinema e televisão. Em 2000, retornou como professora no Tablado, onde permaneceu até 2018, afirmando-se como um nome incontornável na formação teatral focada em crianças e adolescentes.

Em 1979, durante as filmagens de Os sete gatinhos, adaptação da peça de Nelson Rodrigues dirigida por Neville d`Almeida, foi convidada pelo diretor de arte Marcos Flaksman para integrar o elenco de A Serpente, no papel de Guida. O relato dessa experiência pode ser conferido na entrevista a seguir.

Carlos Gregório é ator, diretor e roteirista. Formado pelo Conservatório Nacional de Teatro, iniciou a carreira em 1969, tendo desde então trabalhado intensamente no teatro, cinema e televisão. Nos palcos, participou de peças emblemáticas como Galileu Galilei, Na selva das cidades e O rei da vela, com o Teatro Oficina; A mais sólida mansão, texto de Eugene O`Neill, ao lado de Fernanda Montenegro e com direção de Fernando Torres; Era uma vez nos anos 50, de Domingos Oliveira; e A aurora da minha vida, de Naum Alves de Souza. Atuou em diversos filmes nacionais, como Prata Palomares, dirigido por André Faria e com roteiro de José Celso Martinez Corrêa; Os Inconfidentes, de Joaquim Pedro de Andrade; Guerra Conjugal, do mesmo diretor, com o qual foi eleito melhor ator no Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte); e Baixo Gávea, de Haroldo Marinho Barbosa, premiado como melhor ator com o Troféu Candango do Festival de Brasília. Atuou também em telenovelas como Saramandaia, Veredas, Direito de amar, Vale Tudo, Elas por elas, Rainha da Sucata, História de Ana Raio e Zé Trovão e Quatro por quatro. Nos anos 80, começou a criar histórias para o cinema e em 1995 foi contratado como roteirista pela TV Globo, onde permaneceu por 26 anos. Em 2013 assinou, junto com Marcos Bernstein, a novela Além do Horizonte. Prestou consultoria de roteiro para instituições como Ministério da Cultura, Ancine, Secretaria do Audiovisual e para os workshops Sundance-Sesc/RioFilme em três de suas edições. Seu primeiro curta-metragem como diretor e roteirista, Amar…, de 1997, recebeu nove prêmios em festivais nacionais, em diversas categorias. Seu segundo curta, LOOP, ganhou os prêmios de Melhor Roteiro no Gramado Cine-Vídeo e no Festival de Curitiba em 2002. Em 2006, escreveu e dirigiu a série documental JK.Doc, uma parceria TV Globo/GNT. Escreveu a história original e o roteiro do filme Se Eu Fosse Você, dirigido por Daniel Filho em 2005. Em 2003, publicou o romance Ruídos e Pequenos Movimentos.

No começo da década de 1970, durante as filmagens de Os Inconfidentes, filme de Joaquim Pedro de Andrade rodado em Ouro Preto (MG), Carlos Gregório se aproximou de Paulo César Pereio. Junto da esposa deste último, Neila Tavares, criaram a Bléck Bêrd Produções Artísticas, responsável pela montagem de Anti-Nelson Rodrigues. O relato sobre este espetáculo, estreado em 1974, pode ser conferido na entrevista a seguir.

Do texto

Em A Serpente, última peça de Nelson Rodrigues, duas irmãs, Guida e Lígia, dividem o mesmo apartamento com seus respectivos maridos. Entretanto, enquanto a primeira é feliz no casamento, a segunda jamais consumou o ato sexual. O conflito se dá a partir do momento em que Guida oferece o próprio marido à irmã por uma noite.

Da montagem

Peça curta em um único ato, A Serpente seria o 17º e último texto de Nelson Rodrigues para o teatro. Escrita em meados de 1979, ela rompia um hiato de seis anos em sua produção dramatúrgica, desde Anti-Nelson Rodrigues, escrita em 1973 e estreada no ano seguinte. Essa ausência dos palcos, motivada por sua dedicação à imprensa e dificultada por uma saúde frágil, tornava a expectativa por seu retorno ainda maior. Após alguns meses de ensaio no Teatro Villa-Lobos, A Serpente estreia em seis de março de 1980 no Teatro do Banco Nacional de Habitação (BNH), no Rio de Janeiro, quase simultaneamente ao lançamento de seu livro pela Editora Nova Fronteira. Com sessões de terça a domingo, incluindo duas seguidas aos fins de semana, a nova peça permaneceu em cartaz até o fim de junho daquele ano, completando aproximadamente 130 apresentações. Além de ter assistido aos ensaios, Nelson acompanhava a temporada observando sentado das coxias. O texto havia sido cedido pelo autor a Marcos Flaksman, que assinava a direção, cenografia e iluminação do espetáculo, tendo convidado para interpretar os cinco personagens Xuxa Lopes, Sura Berditchevsky, Claudio Marzo, Carlos Gregório e Yuruah, manequim estreante no teatro e que trabalhava com Chico Anysio na TV. Para contar a tragédia das duas irmãs que moram com os maridos em um mesmo apartamento no 12º andar, Flaksman, em seu segundo trabalho como diretor, concebeu um espetáculo fortemente apoiado no desempenho dos atores, desafiados a manter o clima de tensão constante durante os cerca de 70 minutos de duração daquela que era divulgada como a peça mais violenta e seca de Nelson. A serpente do título, referência à tentação do Gênesis, exigiria uma peça afrodisíaca à altura, marcada por, nas palavras do autor, um “erotismo fulminante” e “uma tensão dionisíaca desesperadora”. Na montagem, também chamavam atenção a música ao vivo executada por um violoncelista que pontuava as cenas sob a direção musical de John Neschling; o uso de espécie de monólogos interiores gritados na boca de cena, evocando certo tom operístico; e, sobretudo, o cenário de Flaksman, que espelhava duas camas sob um terraço, sugerindo a altura suicida própria de uma classe média em expansão que habita os prédios dos grandes centros urbanos. Construía-se, assim, um espaço de confinamento e privacidade devassada para que os casais da peça evidenciassem sua intimidade repugnante. A “ressureição” dramatúrgica de Nelson era acompanhada pela publicidade daquilo que mais singularizava o texto: sua extrema síntese e concentração de ações e sentimentos, isto é, “em apenas um ato, um rolo compressor de emoções”, sem falas corriqueiras e “gorduras”, mas apenas “músculo vivo”. Embora para alguns críticos A Serpente representasse a obra de um autor que parou no tempo e não acompanhou o desenvolvimento do teatro brasileiro, apresentando os mesmos personagens de 40 anos atrás, a fidelidade de Nelson Rodrigues consigo mesmo, com suas obsessões e com sua visão do mundo e do homem proporcionava a sensação de fechamento de um ciclo coerente, iniciado em 1941 com sua primeira peça, A mulher sem pecado. Tal sensação ganharia ainda mais força com as declarações do dramaturgo de que sempre pensara no título A Serpente e que o embrião da história povoava sua imaginação desde a infância.

⸺ Texto

Nelson Rodrigues

⸺ Direção

Marcos Flaksman

⸺ Produção

Ello Produções Artísticas

⸺ Elenco

Décio: Carlos Gregório
Lígia: Xuxa Lopes
Guida: Sura Berditchevsky
Paulo: Claudio Marzo
Crioula: Yuruah

⸺ Cenografia

Marcos Flaksman

⸺ Iluminação

Marcos Flaksman

⸺ Trilha Sonora

John Neschling

⸺ Figurinos

Marília Carneiro

⸺ Assistente de Direção

Luca de Castro

⸺ Produtor Executivo

Guilherme Callado

⸺ Assistente de Produção

Anita França

⸺ Divulgação

Sílvia Wolfenson

Fragmentos Jornalísticos

- “‘A Serpente’ pode ser considerada uma peça de três atos na qual só é representado o último. Ou seja, a peça inicia-se no clímax, perto do desfecho, com todos os problemas já delineados e as situações definidas. E nisso percebe-se o experiente toque do artesão que é Nelson.” – (GODINHO, Ricardo Linhares. “Morte, virgindade, sexo”. Jornal dos Sports, Rio de Janeiro, 01 jun. 1980.)

- “Ela tem os mesmos ingredientes dos outros textos que tornaram seu autor famoso: o amor, sexo, a virgindade, para tudo acabar em morte.” – (MARINHO, Flavio. “A Serpente, de Nelson Rodrigues”. O Globo, Rio de Janeiro, 06 mar. 1980.)

- “– O espectador se senta e só vai conseguir uma respirada no final – diz Flaksman.” – (“No elenco de ‘A serpente’, uma força da natureza (segundo Nelson Rodrigues)”. O Globo, Rio de Janeiro, 11 jan. 1980.)

- “Tem essa coisa da marca de um erotismo profundíssimo. Um erotismo que vai, numa progressão fulminante, acabar em tragédia, amor e morte. Ou sexo e morte. Daí o título: “A serpente”. É a tentação.” – (Entrevista a Nelson Rodrigues. MARINHO, Flavio. “Em apenas um ato, um rolo compressor de emoções”. O Globo, Rio de Janeiro, 28 jan. 1980.)

- “No Rio de Janeiro, o retorno aos palcos de Nelson Rodrigues mereceria, ao menos, um feriado estadual (...).” – (GHIVELDER, Zevi. “A Serpente: um extrato concentrado de Nelson Rodrigues”. Manchete, Rio de Janeiro, 19 abr. 1980.)

- “O que eu diria é que esta peça trabalha as raízes do homem, as raízes da mulher. Por isso, a peça tem gosto de terra.” – (Depoimento de Nelson Rodrigues. TEIXEIRA, Ib. “É a minha criação mais brutal e afrodisíaca”. Manchete, Rio de Janeiro, 27 jan. 1979.)

- “É um texto afrodisíaco. Dirão vocês que todas as épocas são afrodisíacas. Não há dúvida. Mas agora a coisa é mais obsessiva, mais atormentadora.” – (Depoimento de Nelson Rodrigues. TEIXEIRA, Ib. “É a minha criação mais brutal e afrodisíaca”. Manchete, Rio de Janeiro, 27 jan. 1979.)

- “Esta é, de fato, a minha obra mais brutal e, ao mesmo tempo, a mais afrodisíaca. Tudo se desenvolve num clima de amor absoluto que busca a consagração da morte. (...). Mas, francamente, eu não tive a preocupação de fazer nada chocante. A vida em si é que é chocante. O homem é chocante. O que, aliás, não impede que o crítico grite, do fundo do teatro: “Tarado! Tarado!”” – (Depoimento de Nelson Rodrigues. TEIXEIRA, Ib. “É a minha criação mais brutal e afrodisíaca”. Manchete, Rio de Janeiro, 27 jan. 1979.)

- “‘A Serpente’ pode ser considerada uma peça de três atos na qual só é representado o último. Ou seja, a peça inicia-se no clímax, perto do desfecho, com todos os problemas já delineados e as situações definidas. E nisso percebe-se o experiente toque do artesão que é Nelson.” – (GODINHO, Ricardo Linhares. “Morte, virgindade, sexo”. Jornal dos Sports, Rio de Janeiro, 01 jun. 1980.)

- “Ela tem os mesmos ingredientes dos outros textos que tornaram seu autor famoso: o amor, sexo, a virgindade, para tudo acabar em morte.” – (MARINHO, Flavio. “A Serpente, de Nelson Rodrigues”. O Globo, Rio de Janeiro, 06 mar. 1980.)

- “– O espectador se senta e só vai conseguir uma respirada no final – diz Flaksman.” – (“No elenco de ‘A serpente’, uma força da natureza (segundo Nelson Rodrigues)”. O Globo, Rio de Janeiro, 11 jan. 1980.)

- “Tem essa coisa da marca de um erotismo profundíssimo. Um erotismo que vai, numa progressão fulminante, acabar em tragédia, amor e morte. Ou sexo e morte. Daí o título: “A serpente”. É a tentação.” – (Entrevista a Nelson Rodrigues. MARINHO, Flavio. “Em apenas um ato, um rolo compressor de emoções”. O Globo, Rio de Janeiro, 28 jan. 1980.)

- “No Rio de Janeiro, o retorno aos palcos de Nelson Rodrigues mereceria, ao menos, um feriado estadual (...).” – (GHIVELDER, Zevi. “A Serpente: um extrato concentrado de Nelson Rodrigues”. Manchete, Rio de Janeiro, 19 abr. 1980.)

- “O que eu diria é que esta peça trabalha as raízes do homem, as raízes da mulher. Por isso, a peça tem gosto de terra.” – (Depoimento de Nelson Rodrigues. TEIXEIRA, Ib. “É a minha criação mais brutal e afrodisíaca”. Manchete, Rio de Janeiro, 27 jan. 1979.)

- “É um texto afrodisíaco. Dirão vocês que todas as épocas são afrodisíacas. Não há dúvida. Mas agora a coisa é mais obsessiva, mais atormentadora.” – (Depoimento de Nelson Rodrigues. TEIXEIRA, Ib. “É a minha criação mais brutal e afrodisíaca”. Manchete, Rio de Janeiro, 27 jan. 1979.)

- “Esta é, de fato, a minha obra mais brutal e, ao mesmo tempo, a mais afrodisíaca. Tudo se desenvolve num clima de amor absoluto que busca a consagração da morte. (...). Mas, francamente, eu não tive a preocupação de fazer nada chocante. A vida em si é que é chocante. O homem é chocante. O que, aliás, não impede que o crítico grite, do fundo do teatro: “Tarado! Tarado!”” – (Depoimento de Nelson Rodrigues. TEIXEIRA, Ib. “É a minha criação mais brutal e afrodisíaca”. Manchete, Rio de Janeiro, 27 jan. 1979.)